Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
O novo... somos impelidos a acreditar sempre que esse é o melhor. O melhor que poderíamos ter, conquistar e conseguir.
Ao longo da vida vivida, passamos tantas vezes por essa situação que, em algum momento, o botão de recomeçar desconecta.
Possivelmente é aí que está o que nos faz acreditar por tanto tempo. E um dia acordamos incrédulos.
Falta ânimo para recomeçar. Falta fé. Coragem e energia. Acreditamos até que falta tempo.
A euforia que o novo causava se transforma em medo. Medo de sofrer de novo, de errar, medo.
Então nos recolhemos a uma visível insignificância. Aceitamos a sentença. Os amigos casados, felizes, namorando, acompanhados. “Isso não é pra mim”. É o que pensamos.
E podemos até aceitar e passar o tempo do recolhimento, quietos, sozinhos. Mas a vida... a vida exige, grita, se apavora lá dentro, querendo mais.
E se o tempo do recolhimento tem alguma importância, é nos dar o direito de avaliar melhor nossos valores nossos objetivos e anseios, apenas para recomeçar.
Passado esse tempo, sentimos de volta a vontade, a coragem e a energia, como se o renascimento fosse sempre possível. E é. É renascer para a vida, a felicidade. É ver o jardim florescer depois de um longo inverno, ver onde antes havia apenas galhos secos e espinhos, lindas rosas florescerem. É a vida. Renascendo em nós. A vontade quase ingênua de ser feliz de novo. A esperança renascendo.
E lá vamos nós outra vez. Atiramos-nos de cabeça nos amores, sonhos e fantasias, que julgávamos perdidos.
É assim... E o momento é agora. O dia é hoje. Aproveite, viva o presente!